segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Equipamento prevê risco de o períneo se romper no parto

Com o equipamento, ainda não disponível para comercialização, será possível avaliar a necessidade de uma episiotomia -corte na região realizado durante o parto normal para facilitar a passagem do bebê e evitar uma possível laceração.

Também permitirá ao médico avaliar a elasticidade do períneo da paciente durante a gravidez -se a área apresentar rigidez que possa prejudicar a evolução do parto normal, a gestante poderá realizar exercícios para melhorar a elasticidade e fortalecer a região.

"Já testamos o protótipo em algumas gestantes, e o produto se mostrou eficaz. Hoje não existe método para avaliar se é preciso ou não fazer episiotomia. Isso passa a depender muito da experiência do médico", diz a fisioterapeuta da Unifesp Miriam Zanetti, responsável pela criação do medidor de elasticidade perineal.

Para desenvolver o modelo, Zanetti realizou um estudo com 227 gestantes, apresentado neste ano em sua tese de doutorado. Foi utilizado um aparelho alemão, desenvolvido para melhorar a elasticidade da região. A pesquisadora o utilizou como medidor de elasticidade, em parceria com obstetras, e encontrou fatores e parâmetros que ajudaram a predizer o risco de laceração da região na hora do parto. Com os dados, desenvolveu o aparelho.


Até dez anos atrás, a episiotomia era indicada universalmente no Brasil e na América Latina, segundo o ginecologista Eduardo Cordioli, presidente da Comissão de Urgências em Obstetrícia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). "Na verdade, somente de 30% a 35% dos partos normais necessitam do procedimento."

Hoje, afirma Cordioli, as indicações são mais específicas e visam, principalmente, facilitar a passagem do bebê pelo canal vaginal. Indica-se a episiotomia quando o período expulsivo se torna muito prolongado, há sofrimento fetal, é indicado o uso de fórceps e quando o obstetra observa risco iminente de rompimento do períneo.

"O aparelho vai ajudar o médico a tomar a decisão. Se tiver comprovadamente sensibilidade e especificidade boas, será de muito uso tanto para evitar episiotomias desnecessárias quanto para indicá-las e evitar lacerações graves", diz ele.

O corte pode causar demora na retomada à vida sexual, incontinência urinária e dificuldade de movimentação.
"Mas a ausência da episiotomia pode ser pior. Pode haver maior índice de lacerações e sangramentos de difícil controle. Todas as mulheres sofrerão lacerações, sempre têm de levar ponto -as mais leves são esperadas e são melhores comparando [com as possíveis complicações] com a episiotomia", acrescenta Cordioli.

Uma revisão de estudos da Cochrane (rede global dedicada à revisão de pesquisas na área de saúde), publicada em 2008, mostrou que o uso seletivo da episiotomia (quando a necessidade é comprovada) leva a menos traumas no períneo, menor necessidade de suturas e menos complicações decorrentes da cicatrização.
Julliane Silveira
Folha de S.Paulo

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